agosto 16, 2010

Um verão pequeno e lerdo nos Estados Unidos

Depois de uma nostálgica viagem de volta aos anos 90 por entre algumas poucas séries, voltamos às novas. Hoje comentarei um tipo de sci-fi suspense indefinido, um draminha adolescente, um documentário médico, o final de temporada de dois dramas médicos e a bomba da temporada lá nos Estados Unidos. Também vou abrir espaço para uma série brasileira e outra australiana, devido a surpresa que tive com ambas. So let's go on.

1. Pretty Little Liars

Em questões de popularidade e buzz (pelo fato de sempre acabar como trending topic no Twitter), Pretty Little Liars provavelmente foi o programa número um desse verão. Baseado em uma série de livros, o programa é centrado ao redor de quatro garotas de 16 anos que vivem em uma cidade pequena e se passa um ano após a líder do antigo 'grupinho' delas morre, em circunstâncias misteriosas. Todas tem cabelos perfeitos, dinheiro, corpos sarados e estão engajadas em relacionamentos turbulentos. Uma desenvolve um com o professor, outra tem tendências homossexuais, uma terceira coloca chifres na irmã com seu noivo e a última namora um Luke da vida (referência sutil à The O.C.). Pretty Little Liars foi lançada em meio a contínua onda de adolescentes bonitos, ricos e que fazem 13 mil referências pop por minuto - mesmo que na série essas referências sejam mais leves, devido a falta de intelecto que todos os personagens ali exalam. É uma série divertida e que vicia, mas não adiciona absolutamente nada e pode incomodar caso estenda demais certos relacionamentos. Porém o fato de os segredos (tema central da série) permearem tudo o que acontece na pequena cidade a deixa interessante e mostra certo potencial, se a série continuar com essa mesma estrutura. E também há uma personagem (e atriz) em especial que sempre é o destaque para mim: Spencer, que tem uma forte presença em cena e um porte instigante condizente com o tema de mentiras da série. Ah, mas há um sério problema na série: falta ousadia. Todos os relacionamentos na série são melosos demais - para uma série teen - e tudo é meio forçado e moralista demais. Ainda assim, é meu novo vício tosco, admito. Nota: 6.5/10

2. Persons Unknown

Não é possível uma leva de séries, mesmo que pequena, sem que envolva alguma série que se destaque, ou ao menos alguma com uma idéia promissora. E Persons Unknown, série já cancelada que contou com 9 episódios exibidos e 13 gravados. Consiste em um grupo de pessoas que não se conhecem que são postas a viver confinadas em uma cidade desértica no meio do nada coberta por câmeras, quase como se elas estivessem em um experimento à la 1984 ou Admirável Mundo Novo. O trabalho de câmera deixa a série com um autêntico ar de claustrofobia, mas a série peca por uma falta de coerência em certos momentos e uma história fraquinha, mas a premissa é ótima e muito bem trabalhada. Algumas atuações são ótimas também, como a de Tina Holmes,e é uma das séries dessa temporada baixa que eu mais gostei. Não seguiu o terrível caminho que FlashForward tomou ao longo de sua primeira temporada, e manteve a qualidade durante seus nove episódios. Recomendo. Nota: 7/10

3. Rush

É uma série policial australiana que eu baixei ao acaso de uma lista de torrents novos. Mas acabei gostando e é anos-luz melhor que muitos dos police procedurals sem graça dos Estados Unidos (como, por exemplo, The Mentalist) e tem um clima corrido e divertido além daquele sotaque semibritânico que os australianos tem. A Austrália não tem muita tradição em séries, mas já saiu diversas coisas boas de lá, como Blue Water High e Nightmares and Dreamscapes. É bem estruturada, as atuações são sólidas e os personagens exalam carisma - além da série se aproveitar bem do lado psicológico de cada personagem. Nota: 8/10

4. Na Forma da Lei

Essa série não deve ser desconhecida de muitos, devido ao fato de ser uma série brasileira. A Globo, numa tentativa de diversificar sua linha de séries e minisséries, encomendou algo que seguisse a linha de Law & Order. Saiu Na Forma da Lei, seriado policial estrelado por conhecidos atores como Ana Paula Arósio e Luana Piovani. Como tudo de ficção que é feito na televisão brasileira aberta, poderia ter sido mais uma série cliché, moralista e sem nenhuma ousadia - convenhamos, a televisão aberta nacional tem um potencial pra qualidade muito pouco explorado, devido ao fato de que todas as emissoras abertas cedem esse potencial a favor de audiência fácil, com porcarias como Os Mutantes e Malhação aos montes pela Globo, Record, SBT e Bandeirantes. Mas Na Forma da Lei segue um caminho relativamente diferente: trata do cotidiano de policiais federais e mescla isso com famílias de políticos e a vida desses policiais. Foi uma série com bastante ousadia, tratando de corrupção, tráfico e a justiça brasileira de uma forma direta e com pouca enrolação. Chegou até a retratar um tipo de relacionamento homossexual - de um modo, pela primeira vez na TV aberta brasileira, direto - e havia um fumante (só digo isso porque na TV parece que ninguém no Brasil fuma). Ótima série, e como qualquer ótima série brasileira, foi cancelada na primeira temporada. Ótima, Rede Globo. Nota: 8,5/10

O desfibrilador não salvou: o fim de Mercy

Como eu previa, Mercy, em sua primeira temporada, foi cancelada após 22 episódios de consistente declínio na audiência - e progresso na qualidade. Alguns episódios tiveram uma força dramática excelente e as atuações foram sempre de boa qualidade, e seu último episódio não fora diferente. De uma energia fugaz e um texto simples mas por ser bem articulado e por ter fortes atuações eleva muito a qualidade da série. Mercy foi embora mas foi uma das poucas séries médicas a me deixar ansioso pelo próximo episódio.

Falando em séries médicas, a sexta temporada de Grey's Anatomy chegou ao fim com um excelente episódio, o tipo de classificação que só se podia dar a Grey's em temporadas passadas. O fim dessa temporada culminou em um ótimo episódio duplo com extremos níveis de drama - aliás, drama esse muito bem construído - e atuações incríveis. Se Grey's manter três quartos da qualidade apresentada nesse final de temporada em sua nova nessa primavera, já irá ser bom, porque esse episódio foi bastante forte e bem feito. Como antes acontecia.

Documentários são sempre uma área interessante, mas é triste que na televisão eles sejam geralmente limitados aos reality shows, um tipo de documentário de qualidade inferior (ao menos no meu ponto de vista). Não exatamente de qualidade inferior, mas propósito diferente: enquanto o documentário serve para retratar tal realidade, o reality serve puramente para dar audiência ao canal. Quando aparece uma série-documentário na televisão que aborda seu tema com seriedade e de um modo imparcial, isso torna tal série rara. Boston Med é uma dessas raras séries-documentário e, como deve-se imaginar, trata sobre um hospital de Boston, Massachusetts. Ótimo documentário, retrata com qualidade o dia-a-dia do incongruente sistema médico americano e as ânsias e problemas enfrentados com extremidade por lá. Não que lembre em algo o SUS, mas serve pra lembrar-nos que nem tudo é perfeito na terra do Tio Sam.

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agosto 14, 2010

90s e 00s em séries: o que vem mudando?

Venho assistindo algumas séries dos anos 90 e final dos anos 80, devido em parte ao abandono de novas séries e novas temporadas em um verão bem devagar e pequeno lá nos Estados Unidos em questões televisivas. Ainda assim comecei recentemente a acompanhar novas séries que estão rolando por lá e me surpreendi por gostar da maioria das que assisti por enquanto - isso teve a ajuda de uma amiga ainda mais viciada em séries americanas, e como nossos gostos são parecidos... bom, ela teve parte da culpa de me viciar em Pretty Little Liars. Mas depois vou chegar nisso. Antes pretendo relembrar algumas séries caricatas (ou não) do começo dos anos 90 e que tiveram influência no modelo das séries atuais, além de iniciarem tendências que se arrastam até hoje - como o fenômeno das séries adolescentes, por exemplo - e até propositaram o título desse blog. Logo após, outro post com séries novas desse verão e ainda mais longe, a comparação entre uma década extremamente brega que deu início a movimentos tão miseráveis como o pagode mas também rendeu ótimas séries.

Os Anos 90 nas séries

Arquivo-X


Vocês provavelmente tinham total idéia que eu iria colocar entre as séries essa cujo título desse blog foi inspirado por. Mas merece ser reverenciada - e referenciada - essa ótima série que deu início a uma gigantesca tendência de outras séries de ficção-científica e principalmente sobre alieníginas ou a possibilidade de vida extraterrestre. Criada num momento onde o final da Guerra Fria propiciou uma série de descobertas arquivológicas sobre documentos que alegam a existência de objetos voadores de fora do planeta e de estranhos seres vivos encontrados por campos delgados, Arquivo-X veio a se tornar a primeira série de ficção científica com real sucesso na TV aberta americana e foi um dos fatores principais para a popularização do canal Fox. Com ótimas atuações de David Duchovny (Californication) e Gillian Anderson, Arquivo-X foi uma das séries mais inteligentes e provocadoras que já existiram e suas conspirações eram tão bem construídas (principalmente seu arco mitológico) que levou muitas pessoas a querem acreditar em tudo o que o agente Mulder dizia a agente cética Scully. Grande série. Nota: 10/10

Séries adolescentes: não culpe apenas Beverly Hills 90210

Sim, foi nos anos 90 que surgiu o que hoje se transcreve em Skins, The O.C., The Secret Life of the American Teenager e o mais novo produto cobiçado por adolescentes e pré-adolescentes fanáticas e ocas de todo o mundo: Pretty Little Liars. Falar dos anos 80 sem falar de séries adolescentes não rola, pela sentença escrita acima. Mas a culpa não está centralizada no endereço dos milionários em Beverly Hills. A culpa também recai sobre outra série, mas não de um jeito negativo. My So-Called Life estreou em um horário (e dois dias depois de eu nascer, haha) onde Friends também era exibido e acabou sendo cortada do calendário ao fim de sua primeira temporada. Era uma série ousada e até mesmo forte, lidando, em 1994, com temas como estupro, homossexualidade, drogas (inclusive sintéticas), cultura do medo, adultério e muitos outros temas muito bem abordados ao longo de apenas 19 episódios. Era um drama muito bem construído e atuado e merecia receber mais uma temporada. Porém, na época não se reconhecia a força que dramas adolescentes poderiam ter no mecado entre seu público alvo e a série foi cortada. Mas teve tempo de se tornar um dos clássicos da televisão e uma das melhores séries de todos os tempos - sem exagero. Porém inaugurou o gênero que ainda estava subexplorado. Veio também - e eu não posso deixar de comentar sobre essa - na Fox a clássica Beverly Hills 90210, que inaugurou outra seção da ficção adolescente nas séries: as novelinhas bobas adolescentes. Ao Shannen Doherty dizer que precisa de um cigarro e Jason Priestly responder a ela que "se ela pode vencer o cigarro ela pode vencer tudo", a série estava perpetuando o gênero que iria mais tarde se tornar um dos maiores fenômenos escatológicos de todos os tempos. A série começou a ser exibida em 1990 e atingiu o ápice de sua popularidade entre 1993 e 1995. Como My So-Called Life adereçou diversos tópicos sociais como homofobia e uso de drogas, mas de um jeito mais leve e bonito. Afinal, eram todos ricos, sarados, bonitos e não tinha como eles se darem remotamente mal.
My So-Called Life | Nota: 9,5/10
Beverly Hills 90210 | Nota: 7,5/10


E não há como escapar de comentar de séries do canal - que hoje é o triste The CW - no qual os adolescentes americanos finalmente encontraram uma identificação (e modelos estúpidos para seguir): o The WB. Com séries como Dawson's Creek e Buffy (além de Felicity e 7th Heaven), o canal se popularizou enormemente entre jovens e tais programas ganharam gigantes bases de fãs jovens. Daweson's Creek tinha um crivo mais sério, porém ainda assim leve para ser amplamente aceita. Tinha uma linguagem relativamente ousada, com referências a assuntos ainda hoje tabus como masturbação (referido por Joey como 'levar o cachorro para passear') e um constante espírito de busca por liberdade. Foi um ótimo e divertido programa e uma adição de qualidade ao rol das séries adolescentes - com o tímido primeiro beijo entre dois homens da TV americana, se bem que isso é algo disputado. Também houve Buffy, sobre a adolescente que caçava vampiros com seus parceiros de escola. Destaque em Buffy para a excelente tensão sexual crescente entre os membros do programa e alguns arcos de relacionamento bem construídos, mas destaque negativo para a parte dos vampiros que era thrash ao extremo.
Dawson's Creek | Nota: 8,5/10
Buffy | Nota: 6/10
Felicity | Nota: 5/10

Menções honrosas:
Degrassi: The Next Generation | Nota: 8/10


NYPD Blue: remanescente da admiração policial dos anos 80


Do mesmo produtor da ótima L.A. Law, NYPD Blue ia para o outro lado dos Estados Unidos e manteve a estrutura tensa e realista de sua antecessora L.A. Law: tocou durante suas doze temporadas em assuntos controversos como pena de morte, controle de riscos, relações homossexuais e homofobia, violência doméstica e AIDS, dessa vez mostrando o dia-a-dia dos policiais do 15º distrito de Manhattan. Ousado e com cenas de nudez, além de ser relativamente realista, NYPD Blue é muito melhor que esses police procedurals de hoje em dia e seu criador Bohcho fez por merecer o reconhecimento e mérito gigante que a série recebeu.
NYPD Blue | Nota (pelas sete primeiras temporadas): 10/10


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